O mês de janeiro revela um cenário desafiador para o mercado financeiro brasileiro, com o Ibovespa encaminhando-se para registrar seu pior desempenho desde 2016. A queda, estimada em cerca de 4,00%, contrasta com a euforia dos últimos meses de 2023, marcada por um crescimento acumulado de aproximadamente 23%.
Essa reversão nas perspectivas do índice é atribuída, principalmente, às incertezas em torno do início do ciclo de redução dos juros nos Estados Unidos. A mudança na política monetária norte-americana tem impactado não apenas o mercado brasileiro, mas também outras bolsas emergentes, como as do México e Chile, que acumulam baixas em torno de 3,5% neste mesmo período.
Rafael Passos, sócio e analista da Ajax Asset, destaca que a retirada do fluxo externo, responsável por cerca de 50% do volume de negociação na Bolsa brasileira, é um reflexo da reprecificação das expectativas sobre os juros nos EUA. O movimento se intensificou com dados econômicos robustos, posicionando a curva de juros americana para uma possível queda ao longo do ano.
A volatilidade recente preocupa investidores, especialmente estrangeiros, afastando-os do mercado e impactando o volume financeiro. A preocupação com a velocidade da queda na curva de juros nos EUA contribui para a retração nos ativos de risco, com os mercados emergentes sendo particularmente afetados.
Lucas Monteiro, trader de Multimercados da Quantitas, analisa que a situação reflete uma correção normal após os expressivos ganhos dos meses anteriores. O Brasil, em comparação a outros emergentes, mantém uma posição relativamente positiva.
Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, também observa a volatilidade como um fator de afastamento de investidores, principalmente os estrangeiros. O volume financeiro baixo no início do ano contribui para esse cenário.
O impacto da questão fiscal no Brasil não é negligenciado, mas Rafael Passos enfatiza que o aumento das taxas dos Treasuries ainda é o principal motor para a retirada de recursos estrangeiros. As notícias domésticas têm menos influência, com o Ibovespa reagindo principalmente a eventos relacionados aos EUA, especialmente no que diz respeito aos juros dos Treasuries.
O comportamento futuro do Ibovespa dependerá dos próximos indicadores econômicos, principalmente o payroll de fevereiro. A falta de clareza sobre a política monetária dos EUA continuará a influenciar o fluxo externo para a B3, com os investidores atentos aos movimentos dos estrangeiros, que desempenham um papel fundamental na dinâmica do mercado brasileiro.